terça-feira, 26 de maio de 2020

Professora Vaessa Bracci, Artes - 9 A


REFLEXÃO SOBRE A ARTE

O que é arte? Essa é uma pergunta tão antiga quanto a sensibilidade humana. Desde que o primeiro homem, com sua inteligência primal, observou uma árvore e percebeu nela algo mais do que um tronco que sustenta folhas e faz sombra a luz do sol, a humanidade vem se questionando o que vem a ser esse “algo mais”. Por onde ele entrou? O que exatamente provoca em nós? Qual é sua função?
A arte sensibiliza…Não se vê com os olhos, não se ouve com os ouvidos, nem é sentida por qualquer outro sentido corpóreo. A arte é uma das forças universais. Imaterial, invisível, eterna. É a força que desperta o homem para o mundo espiritual, pois é tão somente com nosso espírito que vemos a arte.
Como pôde comprovar Kandinsky em seu belo estudo sobre a essência espiritual da arte: “A alma (espírito) é um piano de inúmeras teclas.” O homem sensível, ao deparar-se com a arte da criação, é manuseado pelas sublimes mãos do Pai, e transborda de regogizo com a sinfonia da vida, com a sublime canção universal.
Sim, essa é a derradeira e fundamental função da arte. Mas como é difícil aos homens percebê-la!
Desde a antiguidade nas cavernas, a arte já nasceu comprometida a ter uma função prática e material: a pintura e a escultura serviam para ilustrar o mundo, a música para as festas, a arquitetura para construção, a dança para as paixões, a literatura para contar histórias e registrar os fatos, a poesia para registrar os sentimentos… Isso para citar as faculdades intimamente ligadas a arte (depois eu explico).
Porém, em realidade, a arte verdadeira, a arte em si, pura e simples, sempre influenciou toda criação material. E sempre soprou ao coração dos homens: “Eu estou em você, mas você não está em mim. Você não me cria, mas eu estou naquilo que você pode criar. E quanto mais sensível e sincero você for ao criar, mas de mim poderá aproveitar… E tão mais sublime será tua criação.”
Aonde acaba a função material da arte, inicia sua verdadeira função: a de tocar as teclas do espírito. Onde acaba a imitação do mundo material, inicia a imitação do mundo espiritual. Onde acaba a natureza exterior, inicia a natureza interior. Onde acaba a razão, inicia a sensação.
A arte é o universal sem conceito
A arte não é racional, não tem um processo determinado nem uma finalidade a ser alcançada. Como disse o filósofo alemão, Immanuel Kant: “A arte é o universal sem conceito.” Sim, ver a arte é sentir despreocupadamente a enorme força que criou e sustenta toda existência… Felizes aqueles que, de tempos em tempos, esquecem um pouco do tempo e da dura caminhada para sentar e observar o mundo. Pois esses estarão verdadeiramente descansando, e quanta energia estarão ganhando para continuarem firmes e fortes na vida! Estarão em contato com o amor da criação, o amor que está em tudo e a tudo movimenta. A força que move o mundo e que, quando percebida, sensibiliza o coração e reabastece o espírito. Bem-aventurados os que vivem assim, pois esses vivem com arte.
Cabe aos artistas buscar pela arte, buscar pela sua tão amada fonte de inspiração. Mas poucos se deram conta que a arte está em tudo, é a arte que escolhe o artista, e não o artista que escolhe ser artista! A arte de cada artista deve brotar de seu coração, do seu interior. Cabe ao artista sugar tudo o que vê do mundo, e estudar as coisas dentro de si mesmo, para então, só então, dar a sua visão e passar a sua mensagem… Nem todos passam boas mensagens, mas só os que são sinceros quanto a seus sentimentos podem sensibilizar.
Quanto maior a sensibilidade do artista, menos borrada estará sua visão do mundo, e maior será seu contato com a arte em si. Pois a arte está em tudo: feliz o artista que percebe que a água serve para muito mais do que aliviar a sede, o vento para muito mais do que agitar as copas das árvores, o trovão para muito mais do que assustar as crianças, o pássaro para muito mais do que nos causar inveja, o céu estrelado para muito mais do que nos orientar na escuridão, a mão para muito mais do que segurar um pincel ou tocar um violão, a mente para muito mais do que efetuar contas matemáticas, e o espírito para muito, muito mais do que podemos imaginar…
A maior emoção do artista não é a fama, o reconhecimento ou a riqueza. Podemos citar diversos gênios da história da arte que passaram sua vida em completa miséria material. Sim, mas esses eram muito, muito ricos espiritualmente… Pois o verdadeiro artista ama loucamente a arte, não pode parar de praticá-la, não vive sem ela, não a troca por nada. Esses são os artistas, homens seduzidos eternamente pela sublime beleza da canção da vida.
a arte está no mundo, e são artistas todos os que vivem com arte
E porque só os pintores, músicos, escritores e profissionais do gênero são considerados artistas? Se a arte está no mundo, e são artistas todos os que vivem com arte, porque o cozinheiro, que cozinha com amor, e se delicia quando agrada a gregos e troianos com seu tempero, não seria artista? Porque o médico, que por amar demais ao próximo dedica sua vida a cura do sofrimento alheio, não seria artista? Porque o oficial do exército, que daria a vida para defender sua pátria contra a injustiça e a guerra, não seria artista? Porque o motorista de ônibus, que zela com sua perícia para que todos os seus passageiros tenham uma viagem tranquila, não seria artista? Porque o jogador de futebol, que dá o sangue e o suor pela competição justa, não seria artista? Porque o lixeiro, que não se importa com o odor nem com a calúnia para poder servir a cidade, não seria artista?
Como falou o filósofo grego Sócrates: “Justo é o homem que é útil ao estado e desempenha bem sua função.” Esse é o verdadeiro artista, aquele que se contenta com o que é e está desperto para o lado verdadeiro da vida. Que antes de ser artista, observou a arte. Que antes de criar para os outros, criou para si mesmo. Que ao invés de julgar o mundo, tentou descobrir sua beleza. E descobriu que a arte tem sim uma função, e uma função vital: a de educar o espírito para a verdade e tudo de maravilhoso que provêm dela…

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