REFLEXÃO
SOBRE A ARTE
O
que é arte? Essa é uma pergunta tão antiga quanto a sensibilidade
humana. Desde que o primeiro homem, com sua inteligência primal,
observou uma árvore e percebeu nela algo mais do que um tronco que
sustenta folhas e faz sombra a luz do sol, a humanidade vem se
questionando o que vem a ser esse “algo mais”. Por onde ele
entrou? O que exatamente provoca em nós? Qual é sua função?
A
arte
sensibiliza…Não
se vê com os olhos, não se ouve com os ouvidos, nem é sentida por
qualquer outro sentido corpóreo. A arte é uma das forças
universais. Imaterial, invisível, eterna. É a força que desperta o
homem para o mundo espiritual, pois é tão somente com nosso
espírito que vemos a arte.
Como
pôde comprovar Kandinsky em seu belo estudo sobre a essência
espiritual da arte: “A alma (espírito) é um piano de inúmeras
teclas.” O homem sensível, ao deparar-se com a arte da criação,
é manuseado pelas sublimes mãos do Pai, e transborda de regogizo
com a sinfonia da vida, com a sublime canção universal.
Sim,
essa é a derradeira e fundamental função da arte. Mas como é
difícil aos homens percebê-la!
Desde
a antiguidade nas cavernas, a arte já nasceu comprometida a ter uma
função prática e material: a pintura e a escultura serviam para
ilustrar o mundo, a música para as festas, a arquitetura para
construção, a dança para as paixões, a literatura para contar
histórias e registrar os fatos, a poesia para registrar os
sentimentos… Isso para citar as faculdades intimamente ligadas a
arte (depois eu explico).
Porém,
em realidade, a arte verdadeira, a arte em si, pura e simples, sempre
influenciou toda criação material. E sempre soprou ao coração dos
homens: “Eu estou em você, mas você não está em mim. Você não
me cria, mas eu estou naquilo que você pode criar. E quanto mais
sensível e sincero você for ao criar, mas de mim poderá
aproveitar… E tão mais sublime será tua criação.”
Aonde
acaba a função material da arte, inicia sua verdadeira função: a
de tocar as teclas do espírito. Onde acaba a imitação do mundo
material, inicia a imitação do mundo espiritual. Onde acaba a
natureza exterior, inicia a natureza interior. Onde acaba a razão,
inicia a sensação.
A
arte é o universal sem conceito
A
arte não é racional, não tem um processo determinado nem uma
finalidade a ser alcançada. Como disse o filósofo alemão, Immanuel
Kant: “A arte é o universal sem conceito.” Sim, ver a arte é
sentir despreocupadamente a enorme força que criou e sustenta toda
existência… Felizes aqueles que, de tempos em tempos, esquecem um
pouco do tempo e da dura caminhada para sentar e observar o mundo.
Pois esses estarão verdadeiramente descansando, e quanta energia
estarão ganhando para continuarem firmes e fortes na vida! Estarão
em contato com o amor da criação, o amor que está em tudo e a tudo
movimenta. A força que move o mundo e que, quando percebida,
sensibiliza o coração e reabastece o espírito. Bem-aventurados os
que vivem assim, pois esses vivem com arte.
Cabe
aos artistas buscar pela arte, buscar pela sua tão amada fonte de
inspiração. Mas poucos se deram conta que a arte está em tudo, é
a arte que escolhe o artista, e não o artista que escolhe ser
artista! A arte de cada artista deve brotar de seu coração, do seu
interior. Cabe ao artista sugar tudo o que vê do mundo, e estudar as
coisas dentro de si mesmo, para então, só então, dar a sua visão
e passar a sua mensagem… Nem todos passam boas mensagens, mas só
os que são sinceros quanto a seus sentimentos podem sensibilizar.
Quanto
maior a sensibilidade do artista, menos borrada estará sua visão do
mundo, e maior será seu contato com a arte em si. Pois a arte está
em tudo: feliz o artista que percebe que a água serve para muito
mais do que aliviar a sede, o vento para muito mais do que agitar as
copas das árvores, o trovão para muito mais do que assustar as
crianças, o pássaro para muito mais do que nos causar inveja, o céu
estrelado para muito mais do que nos orientar na escuridão, a mão
para muito mais do que segurar um pincel ou tocar um violão, a mente
para muito mais do que efetuar contas matemáticas, e o espírito
para muito, muito mais do que podemos imaginar…
A
maior emoção do artista não é a fama, o reconhecimento ou a
riqueza. Podemos citar diversos gênios da história da arte que
passaram sua vida em completa miséria material. Sim, mas esses eram
muito, muito ricos espiritualmente… Pois o verdadeiro artista ama
loucamente
a arte, não pode parar de praticá-la, não vive sem ela, não a
troca por nada. Esses são os artistas, homens seduzidos eternamente
pela sublime beleza da canção da vida.
a
arte está no mundo, e são artistas todos os que vivem com arte
E
porque só os pintores, músicos, escritores e profissionais do
gênero são considerados artistas? Se a arte está no mundo, e são
artistas todos os que vivem com arte, porque o cozinheiro, que
cozinha com amor, e se delicia quando agrada a gregos e troianos com
seu tempero, não seria artista? Porque o médico, que por amar
demais ao próximo dedica sua vida a cura do sofrimento alheio, não
seria artista? Porque o oficial do exército, que daria a vida para
defender sua pátria contra a injustiça e a guerra, não seria
artista? Porque o motorista de ônibus, que zela com sua perícia
para que todos os seus passageiros tenham uma viagem tranquila, não
seria artista? Porque o jogador de futebol, que dá o sangue e o suor
pela competição justa, não seria artista? Porque o lixeiro, que
não se importa com o odor nem com a calúnia para poder servir a
cidade, não seria artista?
Como
falou o filósofo grego Sócrates: “Justo é o homem que é útil
ao estado e desempenha bem sua função.” Esse é o verdadeiro
artista, aquele que se contenta com o que é e está desperto para o
lado verdadeiro da vida. Que antes de ser artista, observou a arte.
Que antes de criar para os outros, criou para si mesmo. Que ao invés
de julgar o mundo, tentou descobrir sua beleza. E descobriu que a
arte tem sim uma função, e uma função vital: a de educar o
espírito para a verdade e tudo de maravilhoso que provêm dela…
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