ESPORTES PARALÍMPICOS
Tudo começou no pós-guerra…
Há pouco menos de dois anos, o Rio de Janeiro foi a
sede das Paralimpíadas de 2016, que encantaram o país e o mundo não apenas pelo
alto nível técnico das competições, mas também pelos frequentes e seguidos
exemplos de superação. Tudo isso resulta de uma longa história. O Movimento
Paralímpico Internacional começou em meados da década de 40, no Pós-Guerra, num
hospital especializado na recuperação de soldados que retornavam do grande
conflito, na cidade inglesa de Stoke Mandeville, Inglaterra.
Para que esses reencontrassem uma razão de viver,
esportes já existentes eram adaptados aos ex-militares, muitos deles amputados,
paraplégicos ou tetraplégicos. No caso brasileiro, o pioneirismo se deve aos
paraplégicos Robson Sampaio de Almeida – que havia conhecido nos EUA
o basquete em cadeira de rodas -, e Sérgio del Grande, e ao professor Aldo
Miccolis, este sem qualquer deficiência. Foram eles os fundadores do Clube do
Otimismo, a 1 de abril de 1958, no Rio de Janeiro. A associação segue em
atividade, no bairro carioca do Méier.
Já em São Paulo, Del Grande fez um trabalho
semelhante e fundou o Clube dos Paraplégicos, na mesma época. A primeira edição
das Paralimpíadas se deu em 1960, em Roma, mesma sede das Olimpíadas daquele
ano, e a delegação brasileira se fez representar pela primeira vez na edição de
1972, na Alemanha.
Quase um quarto da população tem alguma deficiência
Atualmente, de acordo com o Censo de 2010
do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), mais de 45,6
milhões de pessoas têm algum tipo de deficiência, o que equivale a 23,9% da
população brasileira. O tipo mais indicado é a deficiência visual, com 35,7
milhões de pessoas. Por esse estudo, 18,8% dos entrevistados afirmaram ter
dificuldade para enxergar, mesmo com óculos ou lentes de contato; 6,5 milhões
têm severas dificuldades em enxergar e outros 6 milhões têm alguma dificuldade.
Mais de 506 mil são cegas.
A maior parte das pessoas com deficiência vive em
áreas urbanas: 38,5 milhões; havendo 7,1 milhões em regiões rurais. Após a
deficiência visual, seguem-se as deficiências motoras, com 13,2 milhões (7%). A
deficiência motora severa foi citada por mais de 4,4 milhões, dentre as quais
734,4 mil não conseguem caminhar ou subir escadas de modo algum. Outros 3,6
milhões informaram ter grande dificuldade de locomoção.
Em relação à deficiência auditiva, são 5,1% da
população: 9,7 milhões. A deficiência auditiva severa foi declarada por mais de
2,1 milhões de pessoas, dentre as quais 344,2 mil são surdas e 1,7 milhão de
pessoas têm grande dificuldade de ouvir. Já a deficiência mental ou intelectual
foi declarada por mais de 2,6 milhões, ou seja, 1,4% da população.
Acesso à educação e ao mercado de trabalho
O fato de ser portador de deficiência acaba tendo
uma influência na própria formação educacional de alguém. Assim, a taxa de
alfabetização de pessoas de 15 anos ou mais é de 81,7% entre os que têm
deficiência, ao passo que entre os não deficientes esta taxa é de 90,6%. O
mesmo Censo 2010 mostra que 61,1% da população com 15 anos ou mais com
deficiência não têm instrução ou têm apenas o fundamental incompleto. Entre as
pessoas sem deficiência, tal percentual é de 38,2%.
No que diz respeito ao mercado de trabalho, há 44
milhões de deficientes em idade ativa. Destes, 53,8% estão desocupados ou fora
do mercado de trabalho. Do total de pessoas ocupadas no Brasil, 86,3 milhões,
aquelas com deficiência que estão ocupadas chegam a 20,3 milhões, ou seja
23,6%. Entre os portadores de deficiência que estão ocupados, 40,2% têm a
carteira de trabalho assinada. Na população geral, o índice é de 49,2%.
Muitas pessoas portadoras de deficiência estão na
informalidade. Dentre essas pessoas, 27,4% trabalham por conta própria e outros
22,5% sem carteira profissional assinada. Entre a população sem deficiência,
estes índices, respectivamente, são de 20,8% e 20,6%. Tais números deixam claras
as dificuldades que portadores de deficiência encontram para ingressar e se
manter no mercado de trabalho, ainda mais num momento em que o desemprego
atinge no país a mais de 13,7 milhões de trabalhadores.
Cresce a procura por escolinhas esportivas
Para além dos limites do universo esportivo, as
modalidades paralímpicas têm-se tornado um estandarte que exibe para a
sociedade como um todo o potencial e a capacidade de pessoas portadoras de
deficiências, que, acostumada a lutar pelo que mais básico desde o começo da
vida, não se deixam amedrontar diante de dificuldades que levam a nocaute
muitos daqueles que se considera “normais”. Logo após a Rio-2016, clubes e
entidades que mantêm projetos paralímpicos começaram a registrar o aumento na
procura por escolinhas paralímpicas.
Talvez, a procura fosse menor antes pela falta de
informação aos pais e aos jovens e crianças deficientes de que há esporte de
alto rendimento e profissional também para essas pessoas. A expectativa é a de
que, cada vez mais, esses jovens e crianças deixem os quartos em que se
encontravam trancados e procurem ocupar seus espaços na sociedade, seja por
meio do esporte, da arte, de profissões mais convencionais ou do que quer que
tenham escolhido como seus ideais de vida.
Uma mudança de paradigma
Durante o megaevento de 2016, não apenas atletas
brasileiros como estrangeiros deram depoimentos de que o esporte ajudou a
transformar suas vidas, já que muitos saíam de casa apenas para estudar e
mantinham uma rotina de auto-reclusão sem contato com a sociedade. Ao se
integrarem a alguma modalidade adaptada, perceberam que os limites que viam
antes só existiam na imaginação. Por meio da imagem positiva desses atletas, a
opinião pública passa a respeitar e a confiar no potencial dos deficientes.
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