Dança de
salão
A dança é uma das manifestações
artísticas mais antigas da humanidade. Teve origem nos gestos e movimentos
naturais do corpo humano para expressar emoções e sentimentos, a partir da
necessidade de comunicação entre os homens.
Inicialmente, a dança integrava rituais
dedicados aos deuses, objetivando pedir auxílio para a realização de boas
caçadas e pescarias, para que as colheitas fossem abundantes, para que fizesse
sol ou chovesse. A dança fazia parte, também, de manifestações de júbilo e
congraçamento pela vitória sobre inimigos e por outros eventos felizes. Com o
passar do tempo, cada povo desenvolveu suas próprias formas e estilos de
dançar, caracterizando suas diferentes culturas, da mesma forma que a música, o
vestuário, a alimentação, e etc., marcam o jeito de ser próprio de cada
sociedade.
Dependendo de seus objetivos, surgiram diversos
tipos de dança: a guerreira, a teatral, a ritual ou religiosa, a popular ou
folclórica (geralmente dançada em festas populares, em grupos e ao ar livre), o
balé clássico e a dança moderna (artísticos e mais voltados para espetáculos),
a dança social ou de salão, a dança esportiva, o balé no gelo ou patinação
artística e outros tipos. A dança esportiva e a patinação artística são
modalidades de caráter competitivo e estão em processo de inclusão entre os e
esportes olímpicos.
A dança social ou dança de salão é praticada por
casais, em reuniões sociais e surgiu na Europa, na época do Renascimento. Pelo
menos desde os séculos XV e XVI, tornou-se uma forma de lazer muito apreciada,
tanto nos salões dos palácios da nobreza, como entre o povo em geral. É chamada
de social por ser praticada por pessoas comuns, em festas de confraternização,
propiciando o estreitamento de relações sociais de amizade, de romance, de
parentesco e outras. De salão, porque requer salas amplas para os dançarinos
fazerem livremente suas evoluções e porque foi através da sua prática nos
salões das cortes reais europeias que este tipo de dança foi valorizado e
levado para as colônias da América, Ásia e África, sendo divulgado pelo mundo
todo e transformando-se num divertimento muito popular entre diversos povos.
A dança de salão chegou ao Brasil trazida pelos
colonizadores portugueses, ainda no século XVI, e mais tarde, pelos imigrantes
de outros países da Europa que para cá vieram. Num país como o Brasil, com tão
fortes e diferentes influências culturais, não tardaram a se mesclar
contribuições dos povos indígenas e africanos, num processo de inovação e
modificação de algumas das danças europeias importadas, bem como de surgimento
de novas danças, bem brasileiras. O Rio de Janeiro, na medida em que foi
capital do Brasil desde o período colonial até 1960, sempre foi o polo
irradiador de cultura, modismos e inovações em geral para o resto do país.
Em 1808, a corte portuguesa transferiu-se para
cá e trouxe consigo muitos dos gostos e hábitos sociais europeus daquela época,
inclusive as danças que estavam na moda e o costume dos bailes frequentes.
Durante todo o século passado, qualquer evento era motivo para um baile:
aniversários, noivados, casamentos, formaturas, datas cívicas, visitas de
parentes e amigos, etc. Professores de dança europeus, especialmente os
franceses, eram contratados para manter os membros da nobreza brasileira em dia
com as danças que estavam na moda nas mais importantes capitais europeias.
Após a proclamação da república, o gosto pelos
bailes continuou forte, entre os cariocas, tornando-se cada vez mais populares
e frequentes, a ponto do consagrado poeta Olavo Bilac comentar, num artigo de
1906, para a revista Kosmos: "...no Rio de Janeiro, a dança é mais do que
um costume e um divertimento; é uma paixão, uma mania, uma febre. Nós somos um
povo que vive dançando".
Na passagem do século XIX para o XX, as danças
da moda eram a valsa, a polca, a contradança, a mazurca, o xote e a quadrilha.
Sim, a quadrilha que, naquela época, era uma dança refinada, apropriada aos
salões aristocráticos. O próprio Imperador D. Pedro II foi um grande apreciador
das quadrilhas, dançando todas que eram tocadas nos bailes a que comparecia. Só
mais tarde, muito modificada, esta dança virou a quadrilha caipira das festas
juninas, como a conhecemos hoje.
Até a década de 1960, os bailes eram um dos
eventos sociais mais importantes e populares para os cariocas de todas as
idades e camadas sociais. Nos bailes, as pessoas se divertiam, faziam negócios
e novos amigos, muitos namoros começavam, enquanto outros casais faziam as
pazes, depois de brigas e desentendimentos. Muitas vezes, até problemas de
ordem política e econômica, que afetavam o país, eram discutidos em bailes
diplomáticos e outros, aos quais compareciam dirigentes da nação. O
aparecimento e o período áureo das discotecas - em que os casais passaram a
dançar sem se tocar, de uma forma mais livre e solta e até sem necessidade de
parceiro(a) - levaram a dança de salão a cair num semiesquecimento, pelo menos
nas grandes cidades, por um período de vinte anos, mais ou menos. Foi a vez das
luzes e ritmos das discotecas assumirem um papel de destaque na vida social,
substituindo os bailes tradicionais, onde os casais dançavam juntinhos.
A dança de salão não desapareceu, mas passou a
ser vista como uma manifestação fora de moda, praticada por pessoas mais velhas
e conservadoras ou por membros de camadas sociais menos favorecidas, no
interior do país e nas periferias das grandes metrópoles. Desde meados dos anos
'80, porém, a dança de pares enlaçados vem retornando com toda a força,
retomando o lugar de destaque que sempre ocupou na vida social urbana.
Multiplicam-se seus adeptos e os lugares para dançar a dois, num movimento
forte e abrangente, que parece ter vindo para ficar.
Os professores de dança de hoje se organizam em
academias e escolas, onde também são realizados bailes para seus alunos poderem
praticar. Essas academias estão formando um número cada vez maior de
dançarinos. Há concursos e espetáculos, que incentivam os dançarinos a se
aprimorarem e que estimulam a profissionalização de muitos deles. Desta
maneira, estão surgindo cada vez mais profissionais da dança de salão, vários
deles formando companhias de dança para mostrar sua beleza e divulgá-la através
de espetáculos cada vez mais sofisticados tecnicamente.
O sucesso internacional da lambada, nos anos
'80, facilitou o caminho de redescoberta da dança a dois pelos mais jovens,
nascidos e criados ao som dos ritmos de discoteca. E voltando a cair no gosto
do público jovem, a dança de salão vem passando pelo processo de renovação e
expansão a que todos nós estamos testemunhando, no momento. Os ritmos dançados
nos bailes cariocas, atualmente, são: o samba e o chorinho, bem cariocas; o
bolero (e outros ritmos relativamente lentos, que podem ser dançados como o
bolero); ritmos mais rápidos, como o rock e outros, que são dançados de uma
forma genericamente chamada de "soltinho"; a salsa e o merengue;
assim como, em bailes especiais, para seus apreciadores, a lambada e o zouk,
bem como o tango, a milonga e a valsa (dançada à maneira dos argentinos).
A dança de salão é uma das mais tradicionais e
fortes características culturais brasileiras. É uma expressão alegre e
espontânea de seu povo, com seus ritmos e formas de dançar próprios, que
despertam a atenção e a admiração dos turistas estrangeiros. Seu potencial
cultural, educativo e turístico é enorme e, mais uma vez demonstrando sua
vocação de metrópole formadora de opinião para o resto do país, o atual jeito
carioca de dançar vem sendo rapidamente divulgado entre os outros estados
brasileiros, o que não quer dizer que os outros estados não tenham, também,
seus ritmos preferidos e suas formas próprias de dançar. A riqueza e a
diversidade da dança de salão em território brasileiro é grande e é isto que a
torna tão atraente para nós mesmos e para os estrangeiros: o brasileiro é um
dançarino nato, extremamente criativo e musical.
Nenhum comentário:
Postar um comentário
Deixe um comentário em nosso Blog...